Resenha: Tribos – Seth Godin

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Certamente você já usou o substantivo tribo para descrever um grupo de pessoas com interesses em comum. Seth Godin usa essa analogia em seu livro para explicar a tendência humana em formar grupos, como esses grupos se organizam e o papel da liderança dentro dos grupos.

Como identificar uma tribo

A definição de tribo usada no livro é um grupo de pessoas conectadas por uma ideia, com um interesse em comum, uma forma de se comunicar e um líder. Não é possível criar uma tribo sem um líder, assim como não é possível ser um líder sem uma tribo. Uma tribo sem um líder, sem comunicação, nada mais é que uma multidão.

Segundo Godin, a formação de tribos é algo natural a seres humanos: temos essa vontade de pertencer a um grupo, e é parte do nosso instinto de sobrevivência. Somos atraídos por líderes e suas ideias e visões, queremos fazer parte de seus grupos. As tribos se fortalecem pela comunidade que acredita em uma ideia, no líder e na tribo em si.

Daí a necessidade de uma liderança, seja uma pessoa ou um grupo de pessoas e clamam por mudança. Liderança é criar uma mudança em que se acredita. Tribos crescem quando seus membros recrutam outras pessoas, assim as ideias se expandem e viralizam.

A multiplicação das tribos

A tecnologia nos permite fazer parte de diversas tribos ao mesmo tempo. Se antes estávamos limitados geograficamente em nossas pequenas comunidades, atualmente podemos acessar (e criar) inúmeros grupos através da internet.

O livro não entra em tantos detalhes sobre o impacto cultural e social que essa nova forma de comunicação cria, Sapiens, de Yuval Noah Harari discorre mais abertamente sobre o impacto da mudança cultural de passar a pertencer a uma tribo familiar para uma tribo nacional (a identificação com os valores de um país) e agora transcender para tribos digitais.

O livro foi publicado em 2008, antes do impacto polarizador da bolha do Facebook serem analisados, como notícias faltas foram disseminadas pela rede social e os efeitos que tiveram em eleições ao redor do mundo.

Como liderar uma tribo e incentivar uma mudança

Godin é muito bom em descarregar um apanhado de frases de impacto, que são excelentes para a reflexão ou mesmo para criar mantras empresariais o que falta no livro é uma estrutura clara para aplicar as ideias que ele expõe. Uma tentativa de estruturar melhor as principais ideias:

  • Encontre uma causa em que você acredita

Para ser um líder é necessário acreditar no que se faz. Diariamente. Ter uma visão clara da mudança que se deseja alcançar e quais são os passos necessários para alcançá-la. Guiar sua tribo dentro desse planejamento.

Uma mudança no status quo, é uma grande oportunidade de criar um movimento notável.

Um grande elemento da liderança é a habilidade de se ater a um objetivo por um longo tempo. Essa demonstração de resiliência e persistência passa a confiança de que você, como líder, vai atingir seu objetivo, de uma forma ou de outra, inspirando pessoas a se juntarem à causa.

  • Identifique sua tribo

O primeiro passo de um líder é identificar, montar e estreitar a sua tribo. A maior parte das organizações perde tempo (e dinheiro) em comunicação de massa para uma multidão. Líderes inteligentes identificam sua tribo e trabalham para expandí-la.

Você dificilmente vai conseguir estabelecer sua marca (seja individual ou de uma empresa) focando diretamente no mercado de massa.

Segundo Godin, para um artista começar a alcançar sucesso, é necessário apenas mil fãs verdadeiros. Num mundo pós-influencers de mídias sociais, sabemos que os números na verdade são um pouco maiores do que mil, embora o pensamento do autor em validar os fãs verdadeiros, esteja de acordo com a prática de observar o engajamento para validar influencers.

Para crescer é preciso encontrar indivíduos que não só querem se juntar a sua tribo, mas estão dispostos a tomar ação (seja comprar seu produto, fazer uma doação a sua causa ou oferecer suporte).

  • Dê mais importância ao sucesso da tribo do que seu sucesso pessoal

A liderança autêntica de um líder que busca o sucesso da tribo sempre vai prevalescer em relação à liderança egocêntrica de líderes que buscam apenas o sucesso pessoal. Grandes líderes focam na tribo, não buscam atenção para si, mas usam a atenção que recebem para unificar a tribo e reforçar seu propósito.

  • Tome iniciativa

O único caminho garantido para a derrota é não tomar iniciativa. E é o caminho mais comum. Ser um bom líder não é necessariamente sobre ter boas ideias, existem dezenas de boas ideias por aí, mas tomar iniciativa e fazer acontecer.

  • Use histórias e narrativas

Marketing, segundo Seth, é o ato de construir histórias sobre o que produzimos: histórias que vendem produtos e serviços, que são reproduzidas e discutidas por clientes em potencial.

Líderes criam narrativas sobre o futuro e mudanças, histórias que indivíduos da tribo podem contar para si mesmos e que definem o futuro que se deseja construir.

Um exemplo claro da criação de uma tribo através de uma narrativa claro é a famosa campanha da Apple Machintosh, onde ela identificava quais eram os elementos de uma “pessoa Mac” e os elementos de uma “pessoa Windows”. Delimitando sua tribo e criando uma narrativa de auto-identificação com os valores da marca.

  • Estimule a tribo a compartilhar os objetivos

Dê ferramentas a sua tribo para comunicar-se efetivamente tanto internamente, quanto externamente. Seja por fórums, eventos, estimular interações entre os participantes é fundamental para difundir as ideias e importância da tribo.

A chave de uma comunicação efetiva é a importância dos membros da tribo com os membros e objetivos da tribo. Daí a importância de uma narrativa como ferramenta de amplificação destes objetivos, uma tribo que se comunica mais rapidamente, com eficiência e emoção é uma tribo que prospera.

  • Aprenda a lidar com críticas

A liderança é rara porque poucas pessoas estão dispostas a passar pelo discomforto necessário para liderar. O que a maior parte das pessoas teme não é falhar, mas a crítca a seus esforços. A essência da liderança é estar ciente deste medo, o medo não vai desaparecer, mas identificar o problema é a chave para começar a progredir.

Uma crítica negativa não deve arruinar seu dia, pelo contrário é um sinal de que a sua ideia é relevante o suficiente para ser criticada.

O autor menciona que o desejo de aprender com os erros é o que vai evoluir a sua ideia original, mas dá pouca ênfase no processo de aprendizado e melhoria a partir das críticas, o que pode levar a muitos leitores a considerarem a maior parte das críticas como sem embasamento, ou pior: exclusivamente como um indicativo de sucesso.

Ele menciona, no entanto, que o que constrói grandes organizações é a intenção de aprender com suas imperfeições ao longo do caminho, e que se uma organização requer sucesso antes de comprometimento, ela nunca terá nenhum dos dois.

Além disso, segundo Godin, o segredo para uma boa liderança está em aprender a responder as críticas, ao invés de reagir.

Vale a pena a leitura?

Depois de mais de mil e cem palavras sobre o livro, acredito que fica claro que é uma leitura interessante para quem quer se inspirar para alcançar a liderança. Mesmo 12 anos após sua publicação, o texto ainda é atual e relevante.

No entanto, é preciso buscar além dessa leitura para desenvolver estratégias e sistemas para desenvolver suas habilidades como líder.

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